quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Em noite de espetáculo o cajueiro se curva ao vento



Na roça espreita-se entocado o início da tempestade, o espetáculo da dança irada entre vento e água, se embolando, esbarrando com violência nas coisas e nas pessoas.
            O cajueiro da cachoeira caiu. Tava escuro, mas tudo se via com as trovoadas constantes. Para ele, cinqüentenário, grande, imponente no topo do morro, rufaram os trovões durante horas, valentes trovões. Água caía sem dó, direcionada pelas arfáticas rajadas do vento, o protagonista. Como numa tourada, o toureiro, perigoso e peralta, implacável destreza e sagacidade, eis o vento, chacoalhando as galhas longas e ziguezagueadas.  Elas formam inúmeras vias de escalada para quem quer subir no pé e chupar caju, as fortes e flexíveis galhas.
O vento puxou pelas galhas, e na terra abriu-se um rasgo. Os raios mostraram, era uma fenda pequena, que foi se abrindo e abrindo, enquanto pendia o corpo pesado. O vento arrancou o cajueiro pela raiz, caiu sobre a trilha, sobre a roça de Roberto. O barulho ninguém ouviu, os trovões ensurdeciam. Mas houve o barulho.
            O rio está cheíssimo, nervoso, não dá pra banhar, nem pra navegar. Couro e Caramelo ficaram ilhados no piso superior de suas cabanas de gnomos à beira do rio. A água subiu, a correnteza levou o que teve à mão. Eles nunca haviam visto aquilo. Brincadeira de natureza é brincadeira séria.
Mas deve ter sido muito excitante, como a cena do cajueiro que caiu e não morreu. Rei mandou dizer que a trilha contorne o cajueiro, mas que não se corte uma galha sequer. Próximo verão vai botar caju à mão.
            Hoje ao meio-dia o tempo fechou. Choveu forte e ventou. Anoiteceu mais cedo em Ambuba. Espreitamos quietos, preparados. O ar, denso, o que será que ele vai aprontar hoje ?

Nenhum comentário:

Postar um comentário