quarta-feira, 13 de julho de 2011

A maior aventura de um Zé Ninguém

Ato 1 - Tudo bem
Ele vinha andando pela rua meio distraído. Ia em direção ao ponto de ônibus, sem pressa. Chegando perto meteu a mão no bolso pra procurar o passe.
Ato 2 - Dinheiro não gosta de pobre
Quando puxou, saiu junto uma nota de dez reais, com o que ele deveria pagar a passagem de volta. Tinha que pagar a conta de água, mas com 10,00 não paga, então ia deixar atrasar.
A nota saiu, e caiu com o vento, já meio que se embolando pra longe do coitado Zé Ninguém.
Como desgraça de pobre, pouca não há, uma boca de lobo com a boca bem aberta, parecia exercer uma sucção malígna, puxando a nota pra si. Zé saiu num trupico, tentando resgatar sua merreca, em vão. A boca engoliu.
Ato 3 - da Bravura do Zé Ninguém
Ele jurou que não podia ir embora sem o dinheiro pois, além de comprar a passagem de volta, teria que comprar a mistura do jantar e o pão. E você nem acredita que com 10,00 dá pra comprar tudo isso né. Vamos às contas. Zé compra 5,00 de mistura (carne, ou frango) mais 2,80 do passe dá 7,80, ainda sobra 2,20. Ia sobrar dois reais e vinte centavos com os quais Zé poderia fazer qualquer coisa que quisesse. Podia comprar dois reais de pão e ainda sobrava vinte centavos. Podia comprar um brinquedo na loja de 1,99 pro seu neto. Podia até tomar uma cerveja, tranquilo na padaria.. Fazendo as contas, Zé chegou a conclusão que faria de tudo pra resgatar. Desceu ao chão, ajoelhou-se na beira do lobo e foi logo enfiando a mão. Depois o braço. Lá dentro é escuro, não dá pra ver nada. Sua mão ia ter que tatear, mais ainda não chegou ao fundo. Enfiou o ombro e nada.
Ato 4 - Filho de Deus
Zé pensou na cerveja. É isso sim, com certeza, que ele vai fazer com o troco. Tomar um cervejinha geladinha, afinal até Zé Ninguém é filho de Deus, pelo menos é o que dizem na igreja. E ele estava se achando muito merecedor de, depois de conseguir resgatar a carne do almoço, tomar uma loirinha. A boca de Zé salivou, era como se ele tivesse sentindo o gosto. Num ato extremo, Zé se enfiou de corpo e alma pra dentro do bueiro.A boca era grande para a nota, mas pequena para a cabeça de Zé.
Ele foi esfregando a cabeça no chão, e o espaço não dava. Mesmo doendo, ele não pensou em desistir.
Até perceber que ficara preso. A cabeça não mexia, nem pra fora nem pra dentro. Imóvel. Pressionada, doendo. Humilhado. Gritou.
Ato 5 - Espezinhando
O pobre Zé Ninguém estava prestes a ganhar seus 5 minutos de fama, quando a gente toda achou a história engraçada e chamou a Tv. Poizé, a Tv foi chamada antes dos bombeiros.
Foi entrevistado assim mesmo, entalado. Os bombeiros chegaram, demoraram algumas horas mas tiraram Zé, sem maiores prejuízos, a não ser dos 10,00. Zé tentava dizer que ainda não tinha pegado o dinheiro, mas os bombeiros nem lhe deram ouvidos. Carregaram-no até a maca da ambulância e fecharam a porta. De lá Zé viu a boca de lobo sumir na esquina. O publico que se formou em volta achou tudo aquilo hilário, sem saber que são e sempre serão vítimas da mesma boca de lobo de Zé Ninguém.

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